sábado, 16 de abril de 2011

Obrigada !

O grito assustado despertou o pânico e ao mesmo tempo a frieza. Liguei o 112 e implorei uma ambulância. Ele tinha caído e o sangue escorria-lhe, fazendo-o perder a esperança de continuar a viver. Naquele momento, despediu-se de nós, disse-nos que gostava de nós e afirmou que partia, que nos deixaria... Ouço de imediato a sirene da ambulância, acreditei que eles o salvariam, mas o estado dele assustava-me. Impediram-me de estar perto dele, pois as lágrimas de desespero invadiram-me impiedosamente. Ouvia-a chorar desesperadamente. Estávamos ambas em pânico e só pensávamos naquilo que lhe poderia acontecer. Era o meu pai. Estava coberto de sangue e a sofrer. Imobilizaram-no e vi-o ali, deitado numa maca, a entrar numa ambulância. Era o meu pai que estava ali. Tive tanto medo de o perder. Mas eu sabia, lá no fundo, que um anjinho o tinha protegido e que ele ia voltar. As lágrimas teimavam em cair e o coração estava apertado. O nó na garganta impedia-me de falar. A ambulância partiu. Levava o meu pai. No hospital estava a minha irmã, preparada para longas horas de angústia ao lado dele em busca de trazer boas notícias. Sentei-me no sofá e não mais saí de lá. Agarrei-me ao telemóvel e esperei ansiosamente pelo telefonema dela. O telemóvel vibrou, corri para ele, apenas dizia que estava consciente e ia fazer exames. Foi uma tarde de tormento. Era o meu pai. Apesar de tudo, era o meu pai e eu precisava muito dele. À partida, não seria nada de grave, tendo em conta o sucedido. O anjinho esteve lá e protegeu-o. Eram duas horas da madrugada. Acordo sobressaltada com o telemóvel a tocar. Era a minha irmã. "Vamos buscar o pai", ouvi do outro lado. Julguei estar a sonhar. Mas não, levantei-me e chamei a mãe. Fomos, na noite gélida, buscá-lo aquele sítio tumultuoso. De repente, olho e vejo-o a caminhar vagarosamente. Senti um enorme aperto no peito. Nunca o tinha visto assim. Estava tão debilitado... A noite foi calma, contudo nem o sono me deixou dormir. Estava aflita e não me conseguia abstrair do momento em que o vi sentado no chão expelindo sangue como uma fonte de água. No dia seguinte, as dores permaneciam, metemo-nos no carro e rumámos a outro hospital. Entrei lado a lado com ele. Ganhei força e coragem, cresci naquele momento e acompanhei-o em todos os corredores daquele imenso hospital. Olhava para ele e sentia vontade de chorar, mas de imediato sentia algo que me encorajava de novo. O cansaço era muito, mas a vontade de o ver melhor era maior e não permitiu que eu desistisse. Lutei contra o cansaço e contra a fome. Aliás, a certa altura deixei de sentir o que quer que fosse. Ansiava que a porta do gabinete se abrisse e me dissessem que ele estava bem. Vagueei dum lado para o outro. Olhei o relógio vezes sem conta. Pedi a Deus que o ajudasse naquele momento. Implorei ao anjinho da guarda que o protegesse.  A porta abriu. Aproximei-me a medo e ouvi-a dizer que o meu pai estava bem. Vi-o a sorrir e com melhor aspecto. Deu-me vontade de chorar, mas tinha de manter a postura. Saímos do gabinete. Estava aliviada, tinha tratado bem dele e eu tinha conseguido aguentar todas aquelas horas. Alguém me disse "isso é que foi crescer"... Eu sei, naquele momento não havia espaço nem tempo para ter medos, receios, fome ou dores nas pernas. Era o meu pai e precisava de mim. Sinto que fiz o máximo que podia e continuo  fazer todos os dias, cada vez que o vejo deitado naquela cama. Cada vez que tenho de ralhar com ele. Cada vez que o obrigo a estar quieto. Cada vez que lhe dou um Brufen para as dores... 
Obrigada meu Deus, meu anjo da guarda, obrigada por teres deixado o meu pai perto de todos nós. Obrigada por o teres protegido das más energias e dando-lhe força para que lutasse contra as adversidades da queda. Obrigada meu anjo da guarda, por permitires que a cada dia que passa eu possa continuar a olhar o meu pai. 
Obrigada !

2 comentários:

  1. são estes imprevistos que vão fazendo de ti uma pessoa mais forte... Conta sempre comigo, és um grande orgulho para mim! Love you

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