quarta-feira, 31 de agosto de 2011

(re) viver

Ainda me lembro das conversas via msn. Não havia dia em que não falássemos, nem que fosse a tradicional conversa "olá, tudo bem?". Recordo, emocionada, os imensos kb que o teu nome ocupava no meu computador. Foram dias , semanas, meses a fio, partilhando contigo todas as minhas histórias, o meu dia-a-dia. Partilhava as minhas lágrimas e os meus sorrisos, os meus medos, as minhas frustrações, partilhava o meu eu contigo. Eras o meu maior refúgio. Ansiava o final da tarde para te poder falar. Sabia que estarias lá, à minha espera, estavas lá por mim e para mim. Não me julgavas, apenas me fazias ter noção da realidade. Eras tu que me apoiavas diariamente, eras tu quem me conseguia fazer sorrir, mesmo quando ninguém o conseguia. Lembro-me do número infindável de mensagens que foram trocadas naqueles primeiros dias. Fazias-me feliz, mesmo à distância. As tuas mensagens de bom dia faziam com que eu acordasse com vontade de viver mais um dia. Os teus beijinhos de boa noite permitiam com que adormecesse tranquilamente. Já não vivias sem mim e eu não vivia sem ti. As minhas pernas tremiam, sentia borboletas na barriga, cada vez que te aproximavas. O teu olhar penetrava-me o coração. Lembro-me da primeira vez em que te sentaste ao meu lado. Tremi. Senti qualquer coisa inexplicável. Estava completamente confusa. Era difícil perceber-me a mim própria. Abraçaste-me. Acolheste-me na tua vida, dando-me a mão, erguendo-me de novo. Há dias em que penso exaustivamente em tudo o que já passou. Confesso que tenho saudades desses tempos. Foram mágicos. E é essa magia que continua presente nestes tempos. Vivia para ti e tu vivias para mim. Usamos uns pó'zinhos de prlim-pim-pim e fizemos da magia uma realidade. Eu era tua e tu eras meu. Foi assim, outrora, e sempre será .

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

letter.

aos que gostam de mim ou, pelo menos, um dia sentiram carinho por mim.

o rosto pálido, a escuridão que me envolve os olhos, a frieza dos meus actos, o cabelo despenteado, os braços caídos e a falta de força nas pernas retratam tudo aquilo que sou. é desilusão aquilo que o espelho reflecte. são anos e anos de sonhos destruídos. são revoltas acumuladas e um cansaço inerente a toda uma vida. por mais que feche os olhos e tente encontrar algo diferente, o peso que carrego é demasiado grande. as forças vão-se esgotando e torna-se cada vez mais complicado continuar o caminho carregando tudo aquilo que acumulo. não sou o que todos ambicionavam que fosse. não sou um génio, nem a princesa. não sou a fada do lar. não corto metas em primeiro lugar, nem marco golos decisivos. as olimpíadas não fazem parte da minha vida. a incapacidade de estampar uma nova realidade é evidente. dói, mas não sou capaz. não consigo corresponder às vossas expectativas.

obrigada pelos votos de confiança. 

terça-feira, 23 de agosto de 2011

avó, minha querida avó,

sei que nunca foi amante destas novas tecnologias, mas a verdade é que foi a única forma que arranjei de lhe falar. desde que partiu que não tem sido fácil. eu sei, avó, já foi há muito muito tempo, no entanto continuo a sentir um vazio enorme que nada nem ninguém o consegue preencher... sabe avó, sonhei consigo. fiquei triste, quando acordei. não passou de um sonho, mas era tão real. ó avó, partiu sem me ver realizada. partiu sem me ver vestir de negro (lembra-se? dizia que ia ser doutora), partiu sem que eu a pudesse levar a passear, partiu sem me ver subir ao altar... partiu, simplesmente, de um momento para o outro e deixou me aqui. tenho saudades suas, avó. ontem falei na sua casa, já não existe agora. quer dizer, está cheia de modernices. lembro-me de ser bem novinha e subir as escadas de pedra. não são muitas as memórias que tenho de lá, mas continuo a ter saudades. avó, partiu sem conhecer uma pessoa muito importante. não me deixou apresentar-lha. é boa pessoa avó, eu estou bem entregue. eu sei que está a acompanhar tudo, mas queria tanto que cá estivesse, avó. dou por mim a pensar em si, mesmo depois de todo este tempo. passaram mais de quatro anos e ainda não consigo lidar bem com tudo isto. mas peço-lhe, avó, para me prometer que não conta a ninguém. são coisas do meu coração, se é que me entende. às vezes ainda penso que é tudo mentira e que quando chegar a casa, vai estar ali ou acolá. mas, infelizmente, nunca fui de viver muito tempo no mundo da lua. e, rapidamente, me apercebo que afinal é mesmo verdade, você partiu. 
bem avó, agora só espero que esteja bem, onde quer que esteja. eu prometo que fico bem e que não faço asneiras (já tenho saudades de lhe pregar umas belas partidas). e um dia, um dia eu apresento-lhe a tal pessoa especial.

um grande beijinho, avó, minha querida avó !

a sua menina.

domingo, 14 de agosto de 2011

meu pequeno anjo,

vi-te logo no dia em que te deste a conhecer ao mundo. olhei para ti enroscado nas roupas amarelas. logo, ali, sob o ar assustador do hospital, tu despertaste em mim um enorme orgulho. já gostava de ti. mal sabia eu que, posteriormente, todo o orgulho que sentia por ti se ia converter numa ligeira mágoa. meu anjinho, eu gostava de ti, gostava de quando sorrias bem alto e contagiavas o mundo. gostava de ti quando corrias livremente pelo jardim, caías e te levantavas afirmando a tua valentia. gostava de ti quando eras atraiçoado pelas palavras difíceis dos adultos. gostava de ti quando dormias como um anjo e me acordavas carinhosamente. mas sabes, sinto mágoa. todavia, gosto de ti quando me insultas. gosto de ti quando finges não me conhecer. gosto de ti quando me rebaixas. gosto de ti quando me pontapeias. gosto de ti quando me maltratas e quando me gritas. gosto de ti mesmo que nunca tenhas corrido para os meus braços, mesmo que nunca me tenhas dado um beijo só porque sim. gosto de ti mesmo que nunca me tenhas expressado num desenho e mesmo que mal te lembres de mim. afinal de contas, o meu coração abriu-se para ti no dia em que nasceste e por mais que me doa, por mais que me faças chorar, eu continuo a gostar de ti. 
venha o que vier, faças o que fizeres, aconteça o que acontecer, doendo ou não : vou gostar de ti para sempre !

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

liness

entrei , olhando em redor, interpretando a solidão compenetrada nas paredes deslavadas. fechei a porta ao mundo grosseiro que nos domina. sentei-me sobre a colcha delicadamente decorada e deixei cair toda a minha existência sobre a imensidão de tecido. os raios solares tentavam a todo o custo invadir o meu espaço. contornavam os mais diversos obstáculos e chegavam sempre até mim. toda aquela luminosidade me assustava. era quente e não me deixava ver com clareza. os meus olhos resistiam-lhes impedindo-me de ver o que quer que fosse através daquela luz. talvez estejam cansados. provavelmente, também eu estou cansada de olhar apenas à minha volta e não para mim. com o decorrer do tempo, o Sol foi desaparecendo no horizonte, a noite começou a cair. eu permanecia ali sozinha. sufocava com cada uma das inspirações. expirava fortemente, na tentativa de expulsar todos os tormentos. por cada tentativa falhada sentia-me fraca, submissa, até mesmo atroz... continuava assim, perdida na solidão do mísero quarto que todas as noites me recebe... continuo a voltar lá, nunca sendo capaz de alcançar aquilo que quero.